Aquele Abraço - o não de Gilberto Gil



 "Meu caminho pelo mundo eu mesmo traço

A Bahia já me deu régua e compasso

Quem sabe de mim sou eu - aquele abraço!"



Lacerda e mercado na maravilhosa imagem da Baía de Todos os Santos.


A canção, criada para fazer uma homenagem à cidade fluminense, destinava-se a criticar a ditadura militar que ocorria em 1969, ano em que a música foi escrita. Gilberto Gil, ao ser libertado do quartel no Realengo, no qual passou sessenta dias preso, retornou em uma quarta-feira de Cinzas ao seu povo e à sua cidade e nesse clima de volta ele foi deixando seu “abraço” de uma maneira especial ou irônica a todos aqueles que marcaram sua existência, assim nasceu a canção Aquele Abraço. Tim Maia regravou o sucesso e tornou a música uma marca em seus Shows. 
O trecho acima é o único que se refere ao Estado origem do cantor, e a obrigatoriedade de se apresentar às autoridades baianas foi um dos motivos que o levaram ao exílio. O restante dos versos exaltam as belezas do Rio de Janeiro.
A música gravada pelo cantor alcança grande repercussão e é premiada com o “Golfinho de Ouro” do Museu da Imagem e do Som. O cantor, já no exílio, recusa o prêmio. Escreve o artigo “Recuso + Aceito = Receito”, publicado no Pasquim em 19 de Março de 1969, fazendo uma explanação sobre as razões de sua recusa tão surpreendente e verossímil. De acordo com ele:


"Se ele (MIS) pensa que com Aquele Abraço eu estava querendo pedir perdão pelo que fizera antes, se enganou. E que fique claro para os que cortam minha onda e minha barba que Aquele Abraço não significa que eu tenha me ‘regenerado’, que eu tenha me tornado ‘bom crioulo puxador de samba’, como eles querem que sejam todos os negros que realmente ‘sabem qual é o seu lugar’. Eu não sei qual é o meu e não estou em lugar nenhum. Mesmo longe eu posso compreender tudo.Mesmo na Inglaterra, a embaixada brasileira me declara ‘persona non grata’ para as agências de notícias. Nenhum prêmio vai fazer desaparecer essa situação". (Gil, 1969).

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